Eu vejo o rombo da sua ausência, quase ao ponto de poder tocá-la. Eu
sentia sua falta antes mesmo de você se fazer presente. E isso parece um
contrassenso, quase tanto quanto você dizer que me ama todos os dias. Eu fico
confusa, perdida e choro. Tudo isso porque passei uma vida inteira colecionando
cicatrizes e hematomas e tenho medo que seja tarde para o amor me salvar. Sinto
medo como nunca, amor.
Naquela época, em
meados de 2005, meu coração não sabia perdoar sua ausência, mesmo sem saber se
você realmente existia. Na
parede da memória, esse é o quadro que dói mais. Era complicado e doído viver sem te encontrar nas
calçadas da Escrivão Azevedo, na poluição visual, no espaço vago entre comprar
pão na padaria e as noites de prisão nos muros virtuais. Você estava lá o tempo
todo, mas eu não conseguia ver. Nem você me via.
Eu fui programada com um compartimento na minha
mente que sempre te mantém no centro de saudades atemporais. Em determinados
momentos do meu passado, a única coisa que eu gostaria era poder ter retirado
você de lá. Para a minha impaciência juvenil, não parecia justo que fôssemos
somente um possível futuro.
De repente, todo passo errado e toda despedida
mal calculada ocasionou em um adeus que me levou até você. E, de alguma forma,
compactamos e nos unimos.
Hoje, vivemos em um mundo só
nosso, em que podemos entrar em um pet shop e comprar um filhote de urso,
deitar em uma rua movimentada como se fosse uma cama de casal, cantar músicas
imprevisíveis e, sem hesitação, sonhar de olhos abertos e beijar de olhos
fechados.
23.05.2014 (um mês e um dia)
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